Criar uma Loja Virtual Grátis

17-11-2012

17-11-2012

Ataque duplo e xeque descoberto



O ataque duplo é uma arma tática utilizada várias vezes, tanto isolada quanto elemento componente de combinações mais complexas. Podemos afirmar que o ataque duplo representa a forma mais comum de elementos táticos na partida de xadrez. Não existem, quase, partidas - desde as de principiantes e até as de grandes mestres - onde não encontramos pelo menos uma ameaça de xeque-duplo. A forma mais simples do ataque duplo é o assim chamado “garfo”, isto é, quando um peão ataca simultaneamente duas peças. Quem não sofreu em suas partidas um garfo?

Outro ataque-duplo muito comum é o xeque atacando ao mesmo tempo outra peça, normalmente de valor superior. Nesse sentido o xeque de cavalo é sempre o mais perigoso pela sua mobilidade e elasticidade.

Sem dúvida, as outras peças (dama, torre e bispo) podem também ser a causa de ataques duplos e xeques duplos. Até o rei pode vir a dar xeque duplo, mas neste caso é também chamado de xeque-descoberto. Por exemplo na seguinte posição: brancas – Rg3 e Tg1; pretas - Rg7, Be7 e Ce3. As brancas jogam 1.Rf2+ e ganham uma peça

O xeque descoberto representa também um elemento tático muito usado. Normalmente é perigoso e leva quase sempre a perdas materiais a até a posições de mate inevitável.



O último lance das pretas, nesta posição, (Te2+) foi uma jogada natural, mas constitui um erro que permite às brancas uma combinação de problema transformando essa partida, disputada entre Schreiner e Spiess em 1938, no Campeonato de Munique, num dos mais bonitos exemplos de ataque duplo, pois nela encontramos vários elementos em apenas 5 movimentos: 1.Dxe2 (sacrifício de dama) 1...fxe2 2.Ta5+ Ce5 3.Txe5+!! (as brancas sacrificaram também a torre para colocar o rei negro em posição de “garfo” 3...Rxe5 4.f4+ (apareceu o “garfo” que, neste caso, não é o elemento decisivo, mas preparatório para o xeque duplo de cavalo) 4...Rxf4 (se 4...Dxf4 5.Cg6+ duplo) 5.Ce6+ (o xeque duplo de cavalo é decisivo, pois após a retomada da dama as brancas não tem dificuldades para ganhar o final).



As pretas tem uma posição melhor, mas não prestaram atenção nos “detalhes táticos” e as brancas têm possibilidades de não somente salvarem-se, mas ainda extraírem o ponto inteiro: 1.Txb5+! Txb5 2.c4+ Rc5 3.cxb5 Rxb5. O final resultante é inteiramente ganho para o primeiro jogador por causa de seu peão passado distante em a2. Uma observação importante é o fato de que nesse tipo de final as pretas não têm peão passado defendido, pois se assim fosse a vitória lhes pertenceria, já que neste caso, iria tomar o peão distante das brancas e voltar ganhando a partida, sendo que as brancas não poderiam executar um plano ativo pois seu rei teria que escravizar-se no encalço do peão passado preto. No presente exemplo as brancas devem ter cuidado e não permitir às pretas a formação do dito peão passado: 4.g4! e4+ (outros lances tampouco salvam) 5.fxe4 fxg4 6.hxg4 h4, as pretas conseguiram seu peão passado mas agora as brancas têm dois peões que ganham sem ser necessário a ajuda do rei: 7.Re3 Rc5 8.a4 Rb4 9.e5 Rc5 10.a5 e ganham.



Um outro exemplo “limpo” de ataque duplo temos no diagrama acima. Trata-se de uma partida disputada num “match” entre França e Bélgica em 1948. Muffang, primeiro tabuleiro da França durante duas décadas, arrematou a partida com 1.Tc7 Dxd7. A dama preta foi atraída na casa necessária para poder tornar possível o golpe 2.Txd8 e as pretas não podem evitar o mate ou a perda de sua dama.



Esta nossa seção sobre ataque duplo e xeque duplo pode parecer, à primeira vista, simples e também que somente jogadores de categorias inferiores podem “cair” em tais ciladas. Mas, mesmo enxadristas mais gabaritados podem incorrer em tais falhas, como é o caso do diagrama acima onde o ex-campeão mundial Emmanuel Lasker contra Eugênio Torre, no torneio de Moscou, em 1925, descuidou-se e jogou 1...Db5, ao que seguiu 2.Bf6!! (a cravada na quinta horizontal foi ilusória e foram as brancas que se aproveitaram dela. As pretas são forçadas a aceitar o sacrifício) 2...Dxh5 3.Txg7+ (agora cria-se o assim chamado “moinho” onde a bateria formada de torre e bispo obtêm, por xeques sucessivos de torre e de bispo por descoberto, graves perdas materiais) 3...Rh8 4.Txf7+ Rg8 5.Tg7+ Rh8 6.Txb7+ Rg8 7.Tg7+ Rh8 8.Tg5+ Rh7 9.Txh5. A combinação terminou com grande vantagem material para as brancas e após alguns lances sem maior importância as pretas abandonaram.

O “moinho”, que vimos neste último exemplo, representa uma poderosa arma quando se consegue obtê-lo, pois produz grandes prejuízos materiais normalmente “limpando” toda uma ala.



Encerramos nossa seção apresentando uma combinação de belo efeito estético. A partida foi jogada numa simultânea em Búfalo, EUA no ano de 1893: 1.Dd7+! Bxd7 2.Cd6+ (duplo) 2...Rd8 3.Cf7+ Rc8 4.Te8+ Bxe8 5.Td8++. Percebemos neste exemplo que as brancas sacrificaram uma dama e uma torre para fechar o rei preto. Tivemos, além de xeque duplo, a abertura de linha e o desvio de peça, outros dois temas estudados neste livro. Mas, o elemento básico desta combinação continua sendo o xeque duplo.