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14-11-2012

14-11-2012

A partida que vamos reproduzir não tem outro objetivo que o de demonstrar, uma vez mais, que o fiancheto de dama é inferior quando se lhe opõe um fiancheto de rei. Foi jogada no campeonato da Rússia (1940), vencido por Lilienthal, empatado com Bondarewsky, com 13,5 pontos de 19 possíveis, o que dá uma idéia de quanto foi encarniçada a luta (Lilienthal é húngaro, nacionalizado russo). 

A esperança estoniana, Keres, chegou em quarto. O Campeão mundial, Botwinnik ficou em sexto e o 19º posto foi ocupado por um mestre da força de Loewenfisch, o que sugere o poderio dos 20 competidores. Estes chegaram a final depois de uma seleção entre meio milhão de enxadristas. É de fazer notar que nos países da antiga Rússia se ensina xadrez aos meninos na escola, como se se tratasse de uma matéria a mais do programa. Daí a enorme difusão deste jogo e os conhecimentos surpreendentes dos jogadores destas nações. 

A prática tem demonstrado que o xadrez é uma técnica e como tal pode ser ensinada do mesmo modo que a medicina, engenharia, arquitetura, etc. É um erro crer que um jogador chega a ser bom porque tem "condições naturais" para este jogo.

Diríamos melhor que esse jogador, à força do estudo e vontade, chegou a aperfeiçoar sua técnica a tal ponto que se destaca entre os demais. 

Porém, vamos a partida, que nos servirá para demonstrar que O FIANCHETO DA DAMA É INFERIOR AO DO REI.

 

Brancas: Lilienthal 

Negras: Botwinnik 


1.d4 Cf6 

  Com Cf6 pode-se jogar logo um fiancheto de Rei, ou um fiancheto de dama, ou d6, ou simplesmente d5. A jogada "usual"(d5) é menos elástica que Cf6 porque com ela entramos diretamente numa "Abertura do peão da dama", sem poder seguir outros caminhos.

2.c4 e6 

  O branco continua desenvolvendo uma abertura da dama, com c4, pressiona sobre a casa d5 (que já domina com o cavalo) intentando disputa-la. O negro, com e6, mantém o controle da mesma casa e procura abrir um caminho a seu bispo de rei.

3.Cf3 b6 

  Conhecer aberturas não significa reter na memória uma série intermináveis de jogadas para cada variante ou sub-variante, senão que saber manter o equilíbrio da balança, tratando, está claro, de inclinar o prato a seu favor. Depois, no meio-jogo, busca-se as contra-chances. Continuemos a partida: o negro com 3...b6 indica que se decide a jogar um "fiancheto de dama", desenvolvendo seu bispo por b7. Quando um jogador pretenda um fiancheto de dama, o melhor é contestar em seguida com um fiancheto de rei ( Já veremos, mais adiante o por que). Porém, deve-se ter em conta, para isso, que o "peão do rei" esteja em sua casa inicial. Do contrário, existirá uma debilidade na casa f3; debilidade que o adversário pode explorar, já que dá lugar a combinações baseadas nessa debilidade. Nunca devemos esquecer que os peões são os únicos que, uma vez avançados, não podem retroceder e que PEÃO QUE SE MOVE DEIXA UMA OU DUAS CASAS FRACAS.
  Porém, não é possível manter em toda a partida os peões na casa inicial: para ganhar há que arriscar algo e, então, é claro que devemos avançar os peões, mas cuidando sempre das debilidades que vão deixando atrás de si.
O condutor das brancas (Lilienthal), seguindo as regras acima jogou...

4. g3 

e a partida continuou assim.

4.g3 Bb7 5.Bg2 Be7 6.0-0 0-0 

Agora vemos claramente porque o fiancheto de rei é melhor do que o fiancheto de dama. Ao produzir-se o roque, o rei branco defende seu bispo de g2, enquanto que o bispo da dama negro está indefeso. Isto pode dar lugar a combinações que veremos mais adiante, baseadas nesta falta de apoio do bispo dama. É claro que se este bispo cai, também cairá imediatamente a torre da dama do negro e isso é, precisamente, o mais grave.
  Poderia-se dizer "porém o negro pode apoiar seu bispo". Está certo mas, para isso, teria de perder um "tempo" levando sua dama a c8. Esta jogada, além de significar perda de um "tempo" precioso, não é recomendável porque a dama, então, deixaria de prestar apoio ao outro bispo e se escravizaria na defesa de seu bispo de b7.
  Com o exposto, já vemos que nesta abertura o equilíbrio da balança foi rompido. Podemos afirmar rotundamente que as brancas estão melhor. Agora é questão de saber fazer valer esta superioridade. Em outras palavras, colocar em jogo esta pequena vantagem.

7.Cc3 Ce4 

  O negro trata de forçar a troca de cavalos em e5 para instalar aí seu bispo. O branco, então, deve tratar de evitar isso.

8.Dc2 Cxc3 

  Com a dama em c2, ameaçava-se duas vezes o cavalo negro, que estava defendido somente uma vez, o que forçou a troca de cavalos. E aqui já vemos qual é a combinação a que dá motivo o indefeso bispo negro de b7. Suponhamos, por um momento, que não fosse possível ao cavalo negro tomar o peão de "e" dando xeque. Vejamos o que sucederia se o cavalo branco saltasse a g5, ameaçando mate com a dama em h7. O negro estaria obrigado a tomar este cavalo e, então, o bispo do fiancheto capturaria o bispo indefeso das negras, ganhando imediatamente a torre da dama, obtendo, com isso, vantagem material.
  Porém é necessário, previamente, tomar o cavalo do negro e deve fazer-se com a dama para não dobrar peões.

9.Dxc3 d6 10.Dc2 

A dama volta a c2 para continuar ameaçando a combinação que já vimos; combinação sumamente apreciável para o negro, que deve pará-la imediatamente e, para isso joga:

10...f5 11.Ce1!? 

  E aqui, que Lilienthal nos perdoe, mas não cremos que haja jogado o melhor. Esta classe de posição é típica nestas aberturas e está comprovado que era melhor 11.d5 com o que se ganhava rapidamente. Trazendo o cavalo a e1 se dá a oportunidade ao negro para que obtenha a igualdade jogando Bxb2, depois do que o equilíbrio haveria voltado, pois não existiria a superioridade do fiancheto do rei sobre o outro. 
  É possível que Botvinnik necessitasse ganhar este ponto para seu escore, pelo que deixou de procurar empate com Bxb2 e preferiu forçar com

11... Cc6

razão pela qual o fiancheto do rei seguiu se valorizando. Vamos esclarecer que com 11.d5 haveria restado dois caminhos ao negro: tomar o peão da com seu peão do rei ou avançar seu peão do rei. Se se toma o peão, o desastre é imediato porque o branco joga 12.Cd4, impedindo que o negro prossiga tomando o outro peão porque cairia o bispo e a torre, e ameaçando levar o cavalo a e6 para dar o "duplo"na dama e torre negras.
  Se o negro prefere avançar seu peão a e4, seguiria: [11.d5 e5 12.Cxe5 dxe5 13.d6 Bxg2 14.dxe7 Dxe7 15.Rxg2 com melhor jogo para o branco.] 

12.d5 exd5 

  Esta última captura é forçada, do contrário as negras perdem o peão de "e" (e entra a combinação já explicada) ou o cavalo.

13.cxd5 

  Para as brancas era tentadora a jogada 13.Bxd5+. Porém o lance de Lilienthal é muito melhor porque leva um peão ao centro, em d5, o qual dará dois pontos fortes para o branco: e6 e c6, nos quais, mais adiante, pode-se instalar um cavalo.

13...Cb4 

  Agora o cavalo negro ameaça a dama e o peão avançado. Onde as brancas devem colocar a dama? Observemos que o bispo da dama do branco (ainda não desenvolvido) não tem nenhum "programa" na diagonal c1-h6 e deduzimos, então, que será melhor desenvolve-lo por fiancheto, pressionando diretamente sobre o roque inimigo. Então, não devemos por a dama em b3. Restam as casas c4 e d2. Descartamos c4 porque depois de 14...a5 (apoiando o cavalo) o negro continuaria 15...Ba6 com conseqüências muito desagradáveis para as brancas. Preferimos, então... 

14.Dd2 a5 15.a3 Ca6 16.b4 Bf6 

  As negras tratam de se opor ao fiancheto preparado pelo branco, porem observemos a diferença: o bispo dama branco estará em b2 apoiado pela dama. As brancas podem jogar tranqüilamente...

17.Bb2 Dd7 

  Para avançar o peão da casa c7 a c6 e apoiar seu bispo da dama.

18.Bxf6 Txf6 

  Se o branco pudesse instalar um cavalo em e6, restringiria o jogo negro. Trata-se, então, de levar o cavalo à casa e6...

19.Cd3 a4 20.Tac1 

  Tomando a coluna.

20...Df7 

  Ameaçando o peão de d5

21.Cf4

  Defendendo o peão de d5. 

21...Bc8 

  Retirar o bispo a c8 significa que o negro reconhece a inferioridade do fiancheto de dama frente ao fiancheto de rei, que é o que estamos demonstrando nesta lição. Bastaria isso para confirma-lo; porém sigamos com a partida, pois ainda não terminou a forte pressão que exerce o bispo branco de g2. Agora o branco tratará de dobrar as torres na coluna "c" para pressionar o peão de c7 e manter o cavalo preso.

22.Tc3 Bd7 23.Tfc1 h6 

  Ao fazer este lance o negro deixa um ponto fraco em g6, que seria magnífico para instalar o cavalo. Impõe-se, então, garantir este ponto.

24.h4 Ta7 

  Perdendo tempo. 

 

25.h5 Ta8

  Regressa. 

26.Te3 Rh7 

  Depois que o cavalo se instalasse em g6 seria muito forte por a torre em e7. Por isso, as brancas levaram a torre para dita coluna, sem apressar-se em jogar Cg6. O negro já está perdido, porém o branco recorda que QUANDO A POSIÇÃO É SUPERIOR NÃO HÁ QUE SE APRESSAR EM ATACAR. A FRUTA MADURA CAI DA ÁRVORE POR SI SÓ.

27.Tcc3 Tb8 

  Para sair da ação do bispo branco, porém deixa o cavalo sem apoio e o branco aproveita imediatamente. 

28.Dd3 Ta8

  Voltando a pôr-se sob o "fogo" do bispo.

29.Cg6 Txg6

  Este é um sacrifício para se livrar da pressão, mas não resolverá.

30.hxg6+ Rxg6 31.Te6+ Rh7 

  Está claro que não se pode 31...Bxe6 porque segue 32.dxe6 atacando a Dama, e então o bispo do fiancheto rei ganha "limpamente" a torre-dama. Uma vez mais se comprova a força deste fianchetto. 

32.g4 c5

  Tratando de liberar-se no flanco dama.

33.b5 Cc7 34.gxf5 Cxb5 

  Tampouco agora se poderia tomar a torre com o cavalo pelas mesmas razões que já explicamos.

35.f6+ Rg8 

  Não se poderia jogar 35...g6 porque a torre branca entraria na 7ª linha, ganhando a dama. Tampouco se podia jogar 35...Dg6 devido a 36.Dxg6+ seguido de 36...Rxg6 37.Tg3+ Rh7 (37...Rh5 38.Bf3+ Rh4 39.Te4+ Bg4 40.Texg4+ Rh5 41.Tf4#) 38.Txg7+] 

36.Tc4 Te8 

  Por fim sai da diagonal

37.Tg4 g5 38.Txe8+ Bxe8 39.Te4 Rf8

  Não se pode tomar o peão em f6 39...Dxf6 devido a 40.Txe8+ Rf7 41.Dxb5 e o branco fica com uma vantagem ganhadora. 

40.Te7 Dg6

  Tampouco agora se pode tomar o peão de f6.

41.Be4 Dh5

  O bispo entra "cortando" por outra diagonal e é ele que decida as últimas ações.

42.Bf3 Dg6 43.Txe8+ Dxe8 (forçado); 44.Dh7 e as negras abandonam. 

  A dama branca ameaçava dar mate em g7.Contra isto a única jogada seria: 44...Df7 45.Dxh6+ Rg8 [Se 45...Re8 46.Bh5 ganhando a dama] 46.Bh5 Dd7 (ou qualquer outra); 47.f7+ E é necessário sacrificar a dama negra, perdendo rapidamente.

 

 

PARTIDAS DE DARCY LIMA (GM)


Rodriguez,Amsdor (2500)
Lima,Darcy (2440)
Guarapuava, 1991


.e4 e5 2.Cf3 Cf6 3.d4 Cxe4 4.Bd3 d5
.Cxe5 Cd7 6.Cxd7 Bxd7 7.0–0 Dh4
.c4 0–0–0 9.c5 g5 10.f3 Cf6 11.Be3 Te8
.Dd2 Tg8!

Uma novidade que eu havia preparado
a tempos.


.Bf2 Dh6 14.Da5 Rb8 15.Bg3 Tc8
.Cc3 Ch5 17.Be5 Bg7
...f6?? 18.Bf5!+- e ganha pois se Bxf5
. Cb5 vantagem decisiva
.Cxd5
.Tfe1 Cf4 19.Bf1 g4 20.g3 gxf3!
.Bxf4 Dxf4!! 22.gxf4 Bxd4+ 23.Rh1
Tg1#
...Bxe5 19.dxe5 g4 20.f4
.Be4!?
...c6!

.Cb6
.Ce7 Cxf4 22.Cxg8 Txg8μ … 23.Dc3
g3 24.h3 Cxh3+!! 25.gxh3 De3+
.Rg2™ Bxh3+! 27.Rxh3 g2+ 28.Rh2
g1D+ 29.Txg1 Dh6#
...Tcd8 22.Cxd7+
.g3 Cxg3! 23.hxg3 Dh3 24.Be4
(24.De1 axb6-+) 24...Dxg3+ 25.Bg2
(25.Rh1 Dh3+ 26.Rg1 g3-+) 25...De3+
.Rh1 Tg6-+; 22.Db4!? Rodriguez,Am
...Txd7 23.Bf5
...g3!! 24.h3
.Bxd7 gxh2+ 25.Rf2 (25.Rxh2 Cxf4+
.Bh3 Txg2+ 27.Rh1 Dxh3#) 25...Dxf4+
.Re1 Dxf1+-+
...Td4
×f4
.Dc3?
.Tad1™ Cxf4μ
...Cxf4! 26.Tae1 Td2!
e as Brancas abandonaram pois se
.Be4 Dxh3!! 28.gxh3 Cxh3+ 29.Rh1
Th2# 0–1


Lima,Darcy (2440)
Makarichev,Sergey (2545)
Sevilla, 1990

Esta era a última rodada do Aberto de
Sevilha que se jogava no fim do ano,
então um dos mais fortes do mundo e
me de deparei com o GM Makarichev
que havia pouco tempo sido o quarto
colocado no Campeonato Soviético,
Treinador do G Kasparov em 1985–1987
e estava em seu melhor momento de
rating naquela época sendo o 84 do
mundo. Eu estava muito bem e achei que
empatando ficaria em boa colocação e
levaria algumas pesetas para casa
naquele frio inverno europeu. Por aquele
tempo como viram na partida anterior eu
era um bom especialista da Petroff e o
maior especialista do mundo era o
Makarichev. Mas a Petroff era uma linha
não agressiva e deixava opções muito
sólidas se o Branco quisesse empatar.
Era uma boa oportunidade de demonstrar
minhas ideias na Petroff e sair
com um empate feliz. Eu fui confiante
para a partida e joguei
.e4
(Na época eu jogava quase sempre 1–
d4) e já esperava o 1–...e5, porém...
...c5
Opa, ele jogou ao toque! Na época não
se usava os bancos de dados e
notebook . Pensei alguns minutos e
conclui que teria que improvisar pois
embora eu pudesse entrar em uma
linha aberta achei que seria um suicídio
já que os soviéticos sempre foram muito
cuidadosos e responsáveis na sua
preparação...
.g3


Achei que uma sublinha assim serviria
porem ele seguiu jogando sem demonstrar
surpresa e de maneira rápida
e confiante
...d5 3.exd5 Dxd5 4.Cf3 Bg4 5.Bg2
De6+ 6.Rf1 Cc6 7.h3 Bh5 8.d3 Dd7
Novidade ao acaso já que não tinha
nenhuma ideia de que inclusive
tinha sido jogado esta posição. Porém
no tabuleiro encontrei esta ideia interessante.
A partir daqui com manobras
criativas comecei a colocar em dificuldades
o forte oponente. 9.Cc3 e 9.g4
são os antecedentes
...e6
...f6 ¹ 10.Be3 e6 11.Ce5!? Bxd1
.Cxd7 Bxc2 13.Cxf6+²
.Cc4 Cf6 11.g4 Bg6 12.Bf4 Cd5
...Be7 13.Cfe5 Cxe5 14.Cxe5 Dc8
.h4±
.Cfe5 Cxe5 14.Cxe5 Dd8 15.Bg3
… h4-h5
...Bd6

.De2! Bxe5
...0–0 17.h4
.Dxe5 0–0 18.h4 Db6?
… f6 18...Te8 ¹
.Te1 Cb4
...h6 20.h5 Bh7 21.g5 hxg5 22.h6!
.h5 f6™ 21.Dxe6+ Bf7?!
...Dxe6 22.Txe6 Bf7 23.Te2±
.Df5+-
.Dxb6? axb6„ ‘a ×c2
...Tae8
...Cxc2 23.Be4; 22...Rh8 23.Te7 Cc6
.h6!
.Txe8 Txe8 24.Be4 g6 25.Df4 Cxc2
.hxg6 Bxg6 27.Bxg6 hxg6
...Te1+ 28.Rg2 Dc6+ 29.Be4
.Dc4+ Rg7 29.Dxc2 Dc6 30.Th3 Df3
.g5 1–0
.d4 Cf6 2.c4 c5 3.d5 e6 4.Cc3 exd5

.cxd5 d6 6.e4 g6 7.f4 Bg7 8.Cf3
Depois deste desenvolvimento, a
partida ingressa no território da variante
dos quatro peões da Índia de Rei. Uma
opção que se mantém no campo da
Benoni Moderna é 8.Bb5+, a denominada
variante Taimanov
...0–0 9.Be2 Te8 10.e5!?
Dando começo a uma luta sem quartel.
O lance feito por Cramling é parte
substancial do repertório proposto pelo
mestre búlgaro Semko Semkov no seu
livro Kill the KID. Na linha principal as
pretas capturam em e5, porém eu senti
que o meu adversário estava mais que
bem preparado para essa continuação,
escolhendo uma linha secundária
...Cfd7!? 11.0–0
De acordo com Semkov, agora 11.e6
fxe6 12.dxe6 Cf6 é bom para as pretas;
enquanto 11.exd6 a6 12.a4 Cf6 13.0–0
Dxd6 é aproximadamente igual
...a6!?
...dxe5 12.Ce4! é a linha principal de
Semkov, porém ele não considera
...a6 que teria levado a uma transposição
com nossa partida. O mestre
búlgaro oferece como continuação
...exf4 (e também 12...Tf8 recomendando
aqui 13.Rh1) 13.Cd6 Te7 14.Bxf4
Cb6 15.Cg5 onde as brancas têm
evidente compensação
.Ce4
A posição é muito interessante e cheia
de ideias diferentes. Aqui, por exemplo,
as brancas podem pensar em 12.Cg5
dxe5 13.d6©
...dxe5 13.fxe5
A posição do segundo jogador é
cômoda após este lance. 13.Cd6!? é a
opção. Uma possível continuação é
...Tf8 14.Cg5 exf4 15.Bxf4 Ce5 onde
as brancas têm compensação mas os
recursos pretos não são depreciáveis.
Neste ponto eu estava satisfeito com o
desenvolvimento do jogo: apesar de não
conhecer muito o esquema, tinha a
complexidade necessária para um jogo
onde eu devia ganhar obrigado levando
as pretas!
...Cxe5 14.Bg5 Db6
Parece que o pior ficou trás para as
pretas. Elas contam com peão a mais e
uma via clara de desenvolvimento para
as peças da ala dama. O peão livre na
coluna d não chega ser suficiente
compensação por ser facilmente
bloqueado no caso preciso
.Cxe5 Txe5 16.Cf6+ Rh8
...Bxf6 17.Bxf6 favorece às brancas
.Dd2 Bf5 18.d6!?
.Cg4 Bxg4 19.Bxg4 f5³
...Cc6!?
Partidas com tanta tensão e cheias de
tática são difíceis de manter com
qualidade uniforme. Aqui teria sido forte,
em vez do lance do texto, 18...Te6! 19.d7
Cc6 20.Ce8 Dxb2 (20...Bd4+!? é
também possível) e as pretas têm clara
vantagem, por exemplo na linha
.Dxb2 Bxb2 22.Bc4 Taxe8 23.dxe8D+
Txe8 24.Bxf7 Tf8μ
.Cd5 Da5
...Txd5 20.Dxd5 Dxb2 era a opção
.Dxa5 Cxa5 21.Cb6

...Txe2!
A continuação natural. O par de bispos
e as possibilidades de ataque contra o
rei branco oferecem compensação mais
que adequada
.Cxa8
A alternativa é 22.Txf5 gxf5 23.Cxa8
Bd4+ 24.Rh1 Cc6 onde a posição das
pretas é claramente preferível
...Bd4+ 23.Rh1 Be4
Quanto mais olhava a posição, mais me
gostava. As centralizadas peças pretas
dominam o tabuleiro, e o peão passado
branco está sempre controlado
.Tg1 f6
Para cortar a comunicação entre o
bispo branco e d8, mas era possível a
opção 24...Cc6 se bem que depois de
.d7 f6 26.Bh4 Txb2 transpõe ao jogo
.Bh4
.d7 Cc6 também leva a mesma
posição
...Txb2 26.d7 Cc6 27.Tae1 f5 28.a4
.Cc7 Txa2 29.Ce6 Bxg1 30.Txg1 Td2
.d8D+ Cxd8 32.Bxd8 c4μ Os peões
livres são aqui mais importantes que a
peça, porque as forças brancas estão
descoordenadas ou (caso da Tg1) muito
passivamente colocadas
...Rg8 29.d8D+ Cxd8 30.Bxd8

No tabuleiro há muito desequilíbrio
material, porém as peças pretas harmonicamente
posicionadas mandam. O
segundo lado recupera algum material
quando quiser, enquanto seus peões na
ala de dama são muito perigosos
...b5!-+ 31.axb5!?
Procurando contrajogo. 31.Cc7 bxa4 e
as pretas ganham, por exemplo 32.Ce8
Bxg1 33.Rxg1 (33.Txg1 a3 34.Bf6
Bxg2+ 35.Txg2 Tb1+ 36.Tg1 Txg1+
.Rxg1 Rf7-+) 33...a3 34.Cf6+ Rf7
.Cxe4 (35.Cxh7 Txg2+ 36.Rf1 Txh2
.Cg5+ Rg7-+ Não parece claro
porém são cinco peões pela peça!)

...fxe4 36.Ba5 a2 37.Bc3 Tb3-+
...Bxa8
Este lance natural perde parte da
vantagem -no entanto, é compreensível
que com tanta diferencia material tinha
procurado alguma certeza-; 31...axb5!
.Cb6 c4 e a posição das pretas é
ganhadora
.bxa6 Ta2
...f4!? merece atenção, porém o lance
do texto é mais natural, atendendo de
forma imediata o peão livre adversário
.Bf6!
Um belo recurso. Resulta que as
brancas vão poder, contra toda
presunção, manter o peão a!
...Bxg1!
Combinada com a continuação da
partida, a única forma de manter a
vantagem; 33...Be4 34.Bxd4 cxd4 35.h4
Ta3 36.Rh2 Txa6 37.g4 não é claro

.Te8+ Rf7 35.Txa8

...Bxh2!
A chave da ideia preta iniciada com
...Bxg1; 35...Bd4 36.Bxd4 cxd4 37.Rg1
é apenas melhor para o segundo lado
.Bc3
Cramling prefere manter os bispos.
.Rxh2 Rxf6 37.a7 Rg5 com posição
estrategicamente ganha para as pretas.
O plano é trocar o peão c pelo a e depois
disso a diferencia de dois peões na ala
de rei é decisiva
...Bd6 37.a7
.Rg1 Bg3 38.a7 Bc7-+
...Bc7!-+
Lembro que nesta posição concreta
finalizava meu cálculo na posição do
lance 33, com a avaliação de vantagem
decisiva. A ameaça ...Bb6 faz da queda
do peão a branco -última esperança de
contrajogo- uma realidade
.Th8 Txa7 39.Txh7+ Re6 40.Tg7

Rd5! 41.Txg6
Depois de tantas aventuras e mudanças
na disposição material, a
vantagem preta nesse campo ficou
reduzida a somente um peão. Porém é
um forte peão livre, e além disso há
ameaças de mate envolvendo ao rei
branco. Pode-se dizer que o resto é
questão de técnica, e somente tinha
que lutar contra os lógicos nervos pela
importância do resultado para a minha
carreira enxadrística
...Ta3 42.Bg7 Bg3
O bispo branco se mantém na diagonal
maior para evitar o mate, porém agora
a torre preta ameaça simplesmente
trocar de coluna (por exemplo ...Te3):
como consequência disso, a torre
branca deve voltar á primeira fileira em
função defensiva
.Tb6 Te3 44.Tb1 Be5
O final de torre está bem para as pretas,
porém 44...Te1+ 45.Txe1 Bxe1 teria sido
talvez mais simples
.Bxe5
.Bh6 Td3-+ seguido pelo avanço do
peão c

Com o rei branco cortado e um peão
livre, o resto é questão de técnica
.Td1+ Rc4 47.Rh2 Rc3 48.Rg3 c4
.Rf4 Tc5 50.Tc1+
.Td7 Rc2 51.Re3 Te5+ 52.Rd4 Te4+